sexta-feira, 30 de março de 2018

QUE É A VERDADE? - SEXTA FEIRA SANTA 2018


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Começa o julgamento.
Agora vai ser julgada a Verdade, vai ser julgada a Justiça, vai ser julgado o Amor!

A justiça torna-se injustiça, porque os homens de coração fechado, cegos pelo ódio, tolhidos pelo medo de perderem as suas prerrogativas, não conseguem ver a Verdade, não conseguem ver o Amor.

Pilatos pergunta-Lhe o que é a Verdade e não obtém resposta, porque a Verdade está diante dele e ele não a consegue ver, cego que está pelo seu poder.
Entregam-no aos seus algozes, como “cordeiro ao matadouro” no dizer cru de Isaías, e Ele nada diz, nem um queixume se ouve.

As bofetadas, as cuspidelas, as palavras ofensivas que Lhe são dirigidas não Lhe interessam, não O ofendem sequer.
Aquilo que O ofende e faz sofrer, são os nossos pecados, as nossas fraquezas, que Ele sabe continuarão, apesar do Seu sacrifício.

Colocam-Lhe a cruz aos ombros.
A cruz da ignominia, a cruz dos condenados, é colocada aos ombros do Perdão, aos ombros daquEle que não condena, mas usa de toda a misericórdia para com todos.
Cada passo, cada queda, cada olhar de escárnio que Lhe dirigem, suscita sempre n’Ele a mesma oração, agora intima, interior, mas que mais tarde, na hora derradeira, se vai tornar audível: «Perdoa-lhes Pai, que não sabem o que fazem.»

Deitam-nO sobre a cruz.
Apontam os cravos, pegam nos maços e com fortes batidas rasgam a Sua carne, perfuram as Suas mãos e os Seus pés.
Cada som cavo de cada martelada, lembra-nos o meu pecado, o nosso pecado!
Que fácil é atirar as culpas para cima daqueles que o faziam, como se não fossemos nós todos que O crucificamos!

Levantam-nO ao céu.
A cruz enterrada na terra, aponta agora o Céu.
É uma escada que devemos subir, fortemente agarrados, entregues a ela, porque só nela encontramos a salvação.

De cima da cruz, Ele olha para os seus algozes, Ele olha para nós, com o mesmo olhar com que olhou para Pedro a seguir a este O ter negado.
É o único olhar que Ele tem, o olhar da compaixão, o olhar da misericórdia, o olhar do perdão.

«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.»

Nesta entrega ao Pai, entrega-nos também a nós, entrega o Seu espírito, para que esse mesmo Espírito seja derramado sobre todos nós, sobre mim, e assim possamos abrir os olhos e reconhecer a Verdade, a Justiça e o Amor.

Faz-se um silêncio avassalador!
Não o silêncio da morte, mas o silêncio da espera, o silêncio que se vai tornar alegria na hora da Ressurreição!

Ah, Senhor, prostrado, joelhos em terra, olhos baixos de vergonha, com lágrimas de contrição, apenas Te digo: Perdoa-me, Senhor, que não sei o que fiz, que não sei o que faço, quando Te crucifico com o meu pecado.

E Tu, Senhor, nesse Teu infindável amor, com esse Teu olhar de misericórdia, com o coração repleto de perdão, apenas me dizes: Levanta-te e anda. Vigia e ora para que não entres em tentação. Não temas que Eu estou sempre contigo.
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Sexta Feira Santa 2018
Joaquim Mexia Alves
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terça-feira, 20 de março de 2018

DONS E TALENTOS AO SERVIÇO

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Há dias atrás, no Sábado do retiro da equipa do Alpha Marinha Grande em São Pedro de Moel, fomos, alguns de nós, tomar o pequeno almoço a uma pastelaria perto da Capela daquela praia.

Dentro da pastelaria, voando e saltitando por entre as mesas estava uma pequena ave, como a fotografia demonstra.
É, pelos vistos, visita permanente na pastelaria.
Diligentemente ia comendo as migalhas que caiam pelo chão, mantendo assim aquele espaço limpo, pelo menos de migalhas.

Fiquei a pensar em tudo aquilo e quis ver ali a mão de Deus, não tanto pela existência da ave e o que fazia, mas como símbolo dos dons e talentos que Deus vai dando a cada um.

A pequena ave tem um “talento” e um “serviço” que é limpar de migalhas o chão daquela pastelaria, e fá-lo com graça, com alegria, (até assim podemos dizer), tornando-se agradável a quem ali vai.

Muitos de nós temos dons e talentos que Deus nos dá e não os colocamos ao serviço dos outros.
Por vezes até, sendo chamados, ou pedindo-nos para fazermos determinados serviços que nos parecem menores, desculpamo-nos com razões tais como, “eu não tenho jeito para isso”, ou “não sou capaz”, etc., etc., porque temos vergonha, porque não queremos ser vistos em tais trabalhos.

E, no entanto, conseguimos ver a beleza de Deus naquela ave e naquilo que ela ali faz, conseguimos ver como Deus nos toca através daquela simples ave e do “serviço” que ela faz com alegria e simplicidade.

Deus na Sua infinita bondade, aprecia de igual modo o que varre a igreja e o que dá formação aos outros.
Se os nossos dons e talentos vêm de Deus, então todos eles são importantes e agradáveis de igual a modo ao próprio Deus.
Arrisco-me até a dizer que aqueles que, humildemente, aceitam fazer trabalhos, serviços que parecem aos nossos olhos menores, têm aos olhos de Deus um “valor” diferente, porque não se importam com os respeitos humanos, colocando acima das “vergonhas humanas”, o servir a Deus, servindo os outros.

Sejamos pois disponíveis, diligentes, alegres, empenhados no serviço, seja ele qual for, a que formos chamados para servir a Deus servindo os outros, na certeza de que Ele olha para nós com todo o Seu amor e não deixará de tocar o coração de outros irmãos nossos, servindo-se do nosso testemunho de humilde serviço e entrega.


Marinha Grande, 20 de Março de 2018
Joaquim Mexia Alves
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Nota: A fotografia não é muito nítida. A ave em questão está nas costas da cadeira da esquerda da mesa em frente.
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sábado, 10 de março de 2018

24 HORAS PARA O SENHOR


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Estive três horas, Senhor, hoje em adoração, em oração, de madrugada, cumprindo o pedido das vinte e quatro horas de adoração feitas pelo Papa Francisco.

E sinto-me um herói!?
Pobre tolo!
De vinte e quatro horas de um dia inteiro que me foi dado por Ti, Senhor, dei-Te três horas, e sinto-me herói!?

Ah, pois, Tu “só” deste a Tua vida por mim!
Ah, pois, Tu “só” estás comigo vinte e quatro horas por dia comigo, até mesmo quando eu não estou contigo, e eu dei-Te três horas!?
Ah, pois, Tu “só” Te preocupas comigo em todas as coisas da minha vida, mesmo nas mais comezinhas, mas eu sinto-me herói porque estive contigo três horas!?

E estive essas três horas por Ti e pelos outros, ou por mim e pelas coisas que eu acho que necessito?

Ai, Senhor, como posso eu dizer que Te amo, se me sinto herói por te dar três horas da vida que Tu me deste?

Ai, Senhor, como eu gostaria de ser muito mais como o Santo Francisco Marto, para Te fazer companhia, para fazer companhia ao «Jesus escondido», e não procurar que Tu me faças companhia nas escassas três horas que Te dei!

Resta-me a consolação de saber que Tu sabes quem eu sou e como sou, e a consolação de saber que a Tua misericórdia é infinitamente maior do que o meu eu, e que, portanto, olhas para mim com o Teu olhar de bondade, de amor, e me apertas junto a Ti, dizendo-me: Gostei tanto, Joaquim, das tuas três horas que me deste!

E eu envergonhado, baixo a cabeça, fujo ao Teu olhar e digo-te: Oh, Jesus, ensina-me a amar como Tu!



Marinha Grande, 10 de Março de 2018
Joaquim Mexia Alves
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domingo, 4 de março de 2018

QUARESMA 2018


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Levanto os olhos e vejo o deserto à minha frente.

Descalço-me porque quero sentir os grãos de areia nos meus pés de peregrino.
São tantos como os meus pecados!
Peregrino no deserto!
Peregrino à procura de mim, ou melhor à procura de Deus em mim.

Ao fundo vejo-O sentado numa pedra, em profunda meditação.
O diabo ronda-O, solícito, feito de palavras mansas, a querer enganar a Verdade.
Mas a Verdade não se engana, nem é enganada, permanece, porque toda ela é Amor.

Aproximo-me.
Quero ver, sentir aquela “luta”, que eu acredito e sei, será perdida pelo inimigo.

Acho que Jesus, (é Ele, sim, que eu vejo ao longe), até olha o inimigo com bondade, com misericórdia, mas ele insiste em querer enganar, no fundo em querer perder-se, cada vez mais.
Com um simples gesto, Jesus afasta-o, porque a hora passou e o inimigo já não tem argumentos, foi derrotado.

Fico quieto, imóvel, quase sem respirar, porque agora aquele que nos quer fazer perder, volta-se para mim e aproxima-se envolto numa beleza incrível.
(Ah, quisera eu que ele fosse horroroso como o pintam!)
Sinto-me vacilar, sei-me fraco, pecador, frágil e temo, temo muito.

Olho mais ao longe, para Jesus, e digo-Lhe com o meu olhar: Senhor, salva-me!

Ouço então a Sua voz dentro de mim, envolta num amor tal, que a beleza do tentador fica ofuscada por este amor.
Meu filho, estes são os dias da penitência, diz-me Jesus ao coração.
Não tenhas medo, Eu estou contigo.
Ouve o tentador, percebe bem em que falhas, em que te sentes mais fraco, em que sentes que já caíste e podes voltar a cair, e depois, agarra-te bem à minha mão, entrega-me o teu coração, e deixa que Eu faça tudo novo em ti.

O inimigo afasta-se, mas vai olhando para trás, como que dizendo: Vou agora mas hei-de voltar!

E Jesus diz sorridente: Enquanto estiveres comigo, ele voltará sempre, mas sempre será derrotado, porque o amor prevalece e é o meu amor maior do que todo o mal.

Baixo a cabeça, sorrio na alegria de Deus, e digo a Jesus cheio de amor: Obrigado, Senhor, por esta quaresma que nos permites viver!


Marinha Grande, 20 de Fevereiro de 2018
Joaquim Mexia Alves

Texto publicado no Grãos de Areia, Boletim mensal da Paróquia da Marinha Grande
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