Em todo este caminho de vida nova, o amor à Palavra de Deus, a sua meditação diária, a entrega ao discernimento do que o Senhor me queria dizer em todos os momentos servindo-se dEla, foi o guia seguro que me conduziu e tem conduzido no caminho que Ele abre à minha vida.
A Bíblia ganhou uma dimensão que eu não suponha Ela pudesse conter!
Educado que fui nos anos em que a Bíblia, quase não era “aconselhável” para o comum leigo, Ela não passava para mim de um conjunto de histórias, umas mais bonitas que outras e algumas delas sem grande sentido e de difícil veracidade.
Ao principio, e ainda movido pela emoção do caminho novo e a ânsia de tudo querer saber, utilizava muitas vezes apenas a cabeça para ler e interpretar a Palavra, o que me levava a interpretações literais, (que logicamente serviam sempre às mil maravilhas ao que eu pensava), e não me conduziam a uma verdadeira mudança de vida interior e exterior.
As passagens que já conhecia, passava-as sem nelas me deter, no pensamento de que, já as conhecendo, nada me podiam trazer de novo.
Encontro ainda em muitas pessoas este modo de pensar.
Mas volta e meia, ao ler certas passagens dessas mais conhecidas, havia pormenores que me saltavam à vista, ou melhor dizendo, ao coração, e ao pedir ao Espírito Santo que me desse o discernimento necessário, aparecia a Palavra viva, que se fazia vida e me questionava em tantos procedimentos do meu dia a dia.
Fui assim descobrindo a riqueza da Palavra de Deus e percebendo que afinal quando nos queixamos tanto que Ele não fala connosco, é porque não queremos escutá-Lo através da Sua Palavra.
E é escusado desculparmo-nos com uma qualquer desculpa de não sabermos “como se faz”, porque Ele próprio, (estando nós de coração aberto), vai conduzindo cada um conforme as suas necessidades, os seus conhecimentos, a sua cultura.
Um dia em que falava sobre este tema, o Senhor quis dar-me um modo de exemplificar o que eu queria dizer, o que eu queria explicar:
Numa exposição de pintura moderna, perante um quadro que “apenas” tenha várias cores, e se intitule, por exemplo, “Senhora num banco de jardim”, é muito provável que não consigamos minimamente ver o que o titulo “apregoa”.
Chamando o pintor e com as suas explicações é então muito possível que já consigamos distinguir o que ele quis “retratar”.
Assim se passa com a Palavra de Deus.
Muitas vezes não entendemos, não percebemos o que Ela nos quer dizer, e então é preciso chamar o Autor, o Espírito Santo, para que Ele nos ilumine e nos faça entender o que a Palavra, o que Deus nos quer dizer.
Mas há uma grande diferença entre as duas situações.
Enquanto aquilo que está no quadro é imutável, ou seja representa aquilo que o pintor quis “retratar”, e apenas aquilo, e depois de percebermos isso está tudo compreendido, a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo é sempre diferente, responde sempre de maneira diversa, conforme as necessidades da minha vida a que Deus quer responder, para me guiar.
E aquilo que está no quadro é igual para todos, representa sempre o mesmo, mas a Palavra de Deus, na mesma passagem bíblica, pode ser diferente para cada um conforme a sua necessidade em cada momento.
Ou seja o quadro é “estático”, a Palavra de Deus é viva!
Este tema leva-me a falar dos dons, dos talentos, que o Senhor coloca em cada um para nos colocarmos ao Seu serviço, servindo os outros.
Passados poucos meses de estar no grupo de oração, foi-me pedido pela responsável do grupo, que fizesse um “ensinamento”, (como chamamos no Renovamento Carismático), ou seja, uma “pregação” tendo como tema a oração.
Recorri a vários livros, Catecismo, Bíblia, etc., e tudo escrevi, (confesso que um pouco convencido que estava a fazer um bom trabalho), para depois ler no grupo de oração.
Assim foi, e percebi que tinham apreciado o “trabalho”, mas que as palavras não tinham tocado os corações, por variados factores, entre eles o facto de ter lido o texto, o que, numa pregação nestas circunstâncias, (grupo de oração), lhe retira alguma vivacidade e a possibilidade dos outros intervirem.
Passou algum tempo em que não tornei a fazer ensinamentos, embora percebesse em mim algo que me impelia para isso.
Uns meses depois, pedimos à Comunidade Canção Nova, que nos ajudasse no sentido de darmos mais vida ao grupo de oração.
Assim, alguns membros da Canção Nova vinham todas as semanas ajudar-nos na oração semanal e passados uns tempos vieram ter comigo para eu fazer novo ensinamento, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.
Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil.
Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (recentemente ordenado sacerdote e que nessa altura era ainda membro da Canção Nova), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas. Repara que ainda agora disseste uma frase linda que eu nunca tinha ouvido.
Nunca me esqueci dessa frase: “Jesus Cristo é a prova constante do amor do Pai”.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração.
Foi uma lição que não esqueci.
O Senhor mostrou-me que sozinho nada sou, nada posso, e que tudo o que faço em Seu Nome é Ele que coloca em mim e eu apenas tenho que me disponibilizar com as capacidades que Ele me deu.
A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos e locais do país para onde me convidavam.
Mas havia uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.
Ao falar em publico expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados.
Num retiro no Seminário da Torre d’Aguilha organizado pela Pneumavita, (passados uns anos do primeiro), e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que retirasse de mim esse “dom”, esse “talento” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho.
Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.
No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, dar testemunho do que se tinha passado no retiro.
Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vicio, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.
Estive no principio deste ano nas termas de Monte Real e fui ao grupo de oração que havia lá mais perto.
Voltando-se para mim, disse então:
Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.
Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.
Percebi o “recado” de Deus!
Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades e mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.
Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.
Entendi também algo que tenho dito muitas vezes, a muita gente:
Não digas que não és capaz! Não te escuses com desculpas de que não sabes, não tens conhecimentos, és tímido, envergonhado e por aí fora.
Deus colocou em ti talentos, a voz para cantar, a voz para falar, os ouvidos para ouvirem, os braços para trabalharem, para abraçarem, a capacidade de organizar, a criatividade para embelezar, tantas, tantas coisas, até à capacidade de limpar, e todos, todos esses dons, esses talentos, são necessários à Igreja, são necessários aos outros.
Lembremo-nos sempre que tudo o que façamos em caridade, se o fizermos em Seu Nome, será sempre Ele que fará em nós e aquilo que fizermos será para Sua Glória e para bem de todos nós.
A Bíblia ganhou uma dimensão que eu não suponha Ela pudesse conter!
Educado que fui nos anos em que a Bíblia, quase não era “aconselhável” para o comum leigo, Ela não passava para mim de um conjunto de histórias, umas mais bonitas que outras e algumas delas sem grande sentido e de difícil veracidade.
Ao principio, e ainda movido pela emoção do caminho novo e a ânsia de tudo querer saber, utilizava muitas vezes apenas a cabeça para ler e interpretar a Palavra, o que me levava a interpretações literais, (que logicamente serviam sempre às mil maravilhas ao que eu pensava), e não me conduziam a uma verdadeira mudança de vida interior e exterior.
As passagens que já conhecia, passava-as sem nelas me deter, no pensamento de que, já as conhecendo, nada me podiam trazer de novo.
Encontro ainda em muitas pessoas este modo de pensar.
Mas volta e meia, ao ler certas passagens dessas mais conhecidas, havia pormenores que me saltavam à vista, ou melhor dizendo, ao coração, e ao pedir ao Espírito Santo que me desse o discernimento necessário, aparecia a Palavra viva, que se fazia vida e me questionava em tantos procedimentos do meu dia a dia.
Fui assim descobrindo a riqueza da Palavra de Deus e percebendo que afinal quando nos queixamos tanto que Ele não fala connosco, é porque não queremos escutá-Lo através da Sua Palavra.
E é escusado desculparmo-nos com uma qualquer desculpa de não sabermos “como se faz”, porque Ele próprio, (estando nós de coração aberto), vai conduzindo cada um conforme as suas necessidades, os seus conhecimentos, a sua cultura.
Um dia em que falava sobre este tema, o Senhor quis dar-me um modo de exemplificar o que eu queria dizer, o que eu queria explicar:
Numa exposição de pintura moderna, perante um quadro que “apenas” tenha várias cores, e se intitule, por exemplo, “Senhora num banco de jardim”, é muito provável que não consigamos minimamente ver o que o titulo “apregoa”.
Chamando o pintor e com as suas explicações é então muito possível que já consigamos distinguir o que ele quis “retratar”.
Assim se passa com a Palavra de Deus.
Muitas vezes não entendemos, não percebemos o que Ela nos quer dizer, e então é preciso chamar o Autor, o Espírito Santo, para que Ele nos ilumine e nos faça entender o que a Palavra, o que Deus nos quer dizer.
Mas há uma grande diferença entre as duas situações.
Enquanto aquilo que está no quadro é imutável, ou seja representa aquilo que o pintor quis “retratar”, e apenas aquilo, e depois de percebermos isso está tudo compreendido, a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo é sempre diferente, responde sempre de maneira diversa, conforme as necessidades da minha vida a que Deus quer responder, para me guiar.
E aquilo que está no quadro é igual para todos, representa sempre o mesmo, mas a Palavra de Deus, na mesma passagem bíblica, pode ser diferente para cada um conforme a sua necessidade em cada momento.
Ou seja o quadro é “estático”, a Palavra de Deus é viva!
Este tema leva-me a falar dos dons, dos talentos, que o Senhor coloca em cada um para nos colocarmos ao Seu serviço, servindo os outros.
Passados poucos meses de estar no grupo de oração, foi-me pedido pela responsável do grupo, que fizesse um “ensinamento”, (como chamamos no Renovamento Carismático), ou seja, uma “pregação” tendo como tema a oração.
Recorri a vários livros, Catecismo, Bíblia, etc., e tudo escrevi, (confesso que um pouco convencido que estava a fazer um bom trabalho), para depois ler no grupo de oração.
Assim foi, e percebi que tinham apreciado o “trabalho”, mas que as palavras não tinham tocado os corações, por variados factores, entre eles o facto de ter lido o texto, o que, numa pregação nestas circunstâncias, (grupo de oração), lhe retira alguma vivacidade e a possibilidade dos outros intervirem.
Passou algum tempo em que não tornei a fazer ensinamentos, embora percebesse em mim algo que me impelia para isso.
Uns meses depois, pedimos à Comunidade Canção Nova, que nos ajudasse no sentido de darmos mais vida ao grupo de oração.
Assim, alguns membros da Canção Nova vinham todas as semanas ajudar-nos na oração semanal e passados uns tempos vieram ter comigo para eu fazer novo ensinamento, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.
Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil.
Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (recentemente ordenado sacerdote e que nessa altura era ainda membro da Canção Nova), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas. Repara que ainda agora disseste uma frase linda que eu nunca tinha ouvido.
Nunca me esqueci dessa frase: “Jesus Cristo é a prova constante do amor do Pai”.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração.
Foi uma lição que não esqueci.
O Senhor mostrou-me que sozinho nada sou, nada posso, e que tudo o que faço em Seu Nome é Ele que coloca em mim e eu apenas tenho que me disponibilizar com as capacidades que Ele me deu.
A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos e locais do país para onde me convidavam.
Mas havia uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.
Ao falar em publico expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados.
Num retiro no Seminário da Torre d’Aguilha organizado pela Pneumavita, (passados uns anos do primeiro), e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que retirasse de mim esse “dom”, esse “talento” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho.
Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.
No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, dar testemunho do que se tinha passado no retiro.
Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vicio, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.
Estive no principio deste ano nas termas de Monte Real e fui ao grupo de oração que havia lá mais perto.
Voltando-se para mim, disse então:
Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.
Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.
Percebi o “recado” de Deus!
Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades e mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.
Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.
Entendi também algo que tenho dito muitas vezes, a muita gente:
Não digas que não és capaz! Não te escuses com desculpas de que não sabes, não tens conhecimentos, és tímido, envergonhado e por aí fora.
Deus colocou em ti talentos, a voz para cantar, a voz para falar, os ouvidos para ouvirem, os braços para trabalharem, para abraçarem, a capacidade de organizar, a criatividade para embelezar, tantas, tantas coisas, até à capacidade de limpar, e todos, todos esses dons, esses talentos, são necessários à Igreja, são necessários aos outros.
Lembremo-nos sempre que tudo o que façamos em caridade, se o fizermos em Seu Nome, será sempre Ele que fará em nós e aquilo que fizermos será para Sua Glória e para bem de todos nós.
(continua)